por Paulo Eduardo Gomes Vieira, pastor presidente da Primeira Igreja Batista de São Paulo
Publicado em 31/10/2021
Preguei na Primeira de São Paulo uma série de mensagens em janeiro e fevereiro sobre o tema ÂNIMO PARA VIVER, tendo como fundamento o livro de Jeremias, e também tendo como referencia o livro ÂNIMO, de Egene Peterson, que foi escrito a partir deste ministério que se tornou, sem dúvida, um dos mais relevantes em toda a escola profética vétero-testamentária.
Um dos registros mais marcantes no livro é o que encontramos no capítulo primeiro: A mim me veio, pois, a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações. Então lhe disse eu: ah SENHOR DEUS! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança (VS. 4,5 e 6).
Jeremias era filho de Hilquias, sacerdote de Israel na terra de Benjamin. O fluxo natural da sua vida o levaria a ser sacerdote. Ele crescera aprendendo todo o ofício do sacerdócio com o seu pai. Dia a dia via-o cuidando dos objetos sagrados do templo, preparando o altar para os sacrifícios, zelando pelos quesitos necessários à liturgia, buscando cumprir meticulosamente com tudo aquilo que estava prescrito no livro de Levítico, a fim de que a espiritualidade e a tradição de seu povo fossem preservadas, e diga-se de passagem, uma bela tradição.
No entanto, algo inesperado aconteceu. Um dia, Deus falou de modo especial a Jeremias. Foi uma fala repentina, surpreendente, assustadora. Às nações te dei como profeta! Ou seja, Jeremias, você imaginava que daria continuidade ao ofício sacerdotal de seu pai. Mas não é isso que eu tenho preparado para a sua vida. Você será profeta! Esta fala assustou aquele pretenso sacerdote. Deixou-o sem fôlego. Atravessou os seus planos, desafiou-o, exigiu que ele deixasse sua “zona de conforto” e entrasse num território desafiador para o qual ele não se sentia preparado. Por isso, mesmo sendo homem adulto, ele respondeu: mas eu não passo de uma criança!
Dali para frente, Jeremias não seria apenas mais um mantenedor de tradições. Ele seria profeta. O seu ministério não mais se restringiria à conservação de hábitos e ritos litúrgicos. Ele seria um desafiador! O seu espaço ministerial não seria mais o ambiente tido como sagrado, a saber, o interior do Templo de Jerusalém. Ele teria que ir às ruas, ao encontro do povo e das realidades presentes e marcantes no contexto no qual ele vivia. Jeremias não seria mais sacerdote, como ele sempre imaginou. Ele seria profeta. Assim Deus estatuiu para a sua vida, e assim aconteceu.
Talvez muitos dos que leem este artigo estejam perguntando neste momento: qual a relação que tudo isso tem com a nossa querida Primeira Batista de São Paulo? Sendo mais específico, quais as implicações que tudo isso tem sobre o nosso modo de ser igreja? Penso eu que tem tudo a ver.
Assim como Deus desafiou Jeremias a ser profeta, entendo que este é um desafio de Deus para nós,hoje, o de exercermos um ministério profético. Assim como as principais demandas para o ministério de Jeremias não estavam dentro do templo, mas do lado de fora dele, entendo que as principais demandas para a nossa igreja não são aquelas tipicamente intra-eclesiásticas, pertinentes ao campo da gestão, relacionadas ao universo da estrutura organizacional, e sim aquelas que estão do lado de fora do nosso cenário denominacional, ou seja, as pessoas, as famílias, a sociedade , onde devemos e temos que sal, ser luz, buscando de modos criativos e inovadores sinalizar o reino, a graça e o amor de Deus, a fim de que uma quantidade maior de pessoas seja alcançada e transformada por aquilo que anunciamos, que não é nada menos que o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
Confesso que me sinto fascinado por esta versão ministerial, que mantém os olhos voltados para as realidades extra-eclesiásticas. Ministério que dispense maior parte das suas energias na busca por uma ação transformadora do mundo decaído no qual nós estamos inseridos. Ministério ousado, que em todo o tempo se sente desafiado pela necessidade de proclamar com avidez o reino do Senhor Jesus, e o seu poderoso nome a toda a criatura. Como igreja, nos sintamos fascinados por esta versão ministerial. Que sejamos igreja profética. AMÉM!